quarta-feira, 27 de junho de 2012

O que ganhei peregrinando...

Bom, depois de certa insistência da Graziane e alguma resistência minha em escrever, decidi não mais postergar e registrar a minha experiência, ou o que eu ganhei com tudo isso... De antemão peço desculpas pois sou prolixo.

Tanto trabalho antes, durante e depois para quê? Alguns podem se perguntar.
Se fosse apenas uma viagem de férias para a Itália, eu diria que preferiria gastar menos e ir para Fortaleza, por exemplo, onde eu poderia descansar, me divertir. Mas não era uma viagem, era uma peregrinação e isso fez toda a diferença. Fomos para, de alguma forma, termos um encontro com Deus, ver o rosto de Jesus Cristo, ouvir sua voz, e ver que a sua Igreja está cheia de vida e que, mesmo remando contra a maré neste mundo, não estamos sós, não somos loucos.

Desde o início era uma viagem impossível, mas o que é impossível para nós é possível para Deus. Do ponto de vista financeiro, a viagem era impossível, pois meu salário é suficiente apenas para nos mantermos, e olhe lá. Uma viagem cara como essa, indo com toda a nossa família e mais minha irmã para nos ajudar, seria inviável do ponto de vista financeiro, ainda mais tendo apenas 9 meses de preparação. Mas Deus nos precedeu quando trabalhávamos e até mesmo quando descansávamos. E essa foi a primeira coisa que ganhei, antes mesmo de partir: fé em Deus. Ele é fiel, e se é da sua vontade, as coisas simplesmente acontecem. Não devo me preocupar com as coisas materiais como vivo me preocupando, agora eu tenho mais uma forte experiência concreta disso.

Não vos aflijais, nem digais: Que comeremos? Que beberemos? Com que nos vestiremos?
São os pagãos que se preocupam com tudo isso. Ora, vosso Pai celeste sabe que necessitais de tudo isso.
Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo. Mateus 6:31-33
A viagem para mim também era impossível do ponto de vista físico e emocional.
Eu já sabia que fisicamente a viagem seria puxada - carregar os meninos, as bagagens, andar por longos percursos, viajar de trem, ônibus, metrô...
Quem me conhece, sabe que sou do tipo sedentário, peso apenas 50kg e com massa muscular mínima; por minhas forças, eu não daria conta do recado.
Um pouco mais de um mês antes da viagem eu comprei um tênis e decidi correr no tempo que tinha disponível, como forma de melhorar meu condicionamento, minha resistência. O que ocorreu foi que eu fiquei tonto depois de menos de 5 minutos e já estava com visão dupla. Cheguei a correr e caminhar uns 20 minutos nesse dia, mas foi o único.
O que sei é que Deus também me deu, e também à toda a família, as forças necessárias para carregar o que tinha que carregar, andar pelo percurso que tínhamos que andar e, quando não aguentaríamos, ele nos enviou pessoas para fazer isso por nós. Só para dar o exemplo que considero mais crítico.
Em Milão, todos já meio adoentados, inclusive eu, mas não tanto, andamos cerca de 4km com as crianças no dia da noite de testemunhos com o Papa. Dormimos pouco mais de 4 horas e fomos para o mesmo local no dia seguinte por volta das 7 da manhã para participarmos da missa, a maioria sem tomar café e só comemos alguma coisa no local. A missa terminou ao meio-dia, estávamos exaustos. Foi então que tivemos que andar mais uns 3km na volta, pois o caminho mais curto estava bloqueado. O que aconteceu é que Estêvão estava cansado e então teve que ir nas minhas costas. Eu só sentia meus braços e pernas dando espasmos. Graziane, nem se fala, gestante, enfrentou tudo isso sem reclamar de nada. Foi um sinal. E então se concretizou o que São Paulo dizia:
A longa caminhada...
Eis por que sinto alegria nas fraquezas, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições, no profundo desgosto sofrido por amor de Cristo. Porque quando me sinto fraco, então é que sou forte. 2 Coríntios 12:10
Emocionalmente, a viagem também prometia. Em uma agência, viajando sozinho, se algo dá errado ou foge dos planos, você simplesmente culpa o organizador, reclama com um terceiro, etc, e não acontece nada. Porém, quando é você que está no comando da viagem, se algo dá errado, a culpa é sua. E se algo dá errado com seus filhos, a culpa e a dor são muito mais que suas. E eu sou meio covarde para assumir estas responsabilidades.
Quem acompanhou o blog sabe que algumas coisas deram errado: não encontrávamos os passaportes na chegada em Lisboa; o barco em Veneza com a Lia e a Clara partiu enquanto eu embarcava as bagagens, e elas não sabiam onde deveriam descer e não tínhamos como nos comunicar; todos adoeceram e Helena e Verônica tiveram uma insistente febre por alguns dias; e outros pequenos problemas que tivemos no decorrer da viagem. Se todos nós não tivéssemos buscando ter o Espírito Santo, a viagem teria sido um fiasco.
Em Veneza ficamos a ver navios...
O que nos preparava a maioria das vezes eram a oração das laudes e os evangelhos de cada dia. Num desses dias difíceis a leitura da manhã era sobre Jó e falava:

Se recebemos de Deus os bens, não deveríamos receber também os males? Jó 2,10.
Essas experiências me fazem ver a importância da oração e do contato diário com a Palavra de Deus.

Do Encontro Mundial das Famílias especificamente guardo a riqueza das catequeses preparatórias que, por sinal, ainda não chegamos a completar. Dos discursos do Papa no encontro, eu confesso que guardei pouca coisa. O meu italiano, embora eu fizesse média, não é lá essas "coca-cola" e muita coisa passou incompreendida. Eu só sei que eu devo retornar e ler tudo que o Papa disse. O pouco que guardei e recordo agora foram a importância das famílias na sociedade, e famílias no seu correto conceito: pai, mãe e filhos; de não termos medo, ele falava principalmente aos europeus em meio às crises financeiras; de sermos generosos e abertos à vida; da importância do Domingo, o dia do Senhor; e da importância do trabalho e do cristão ser sinal também no trabalho. Isso me toca pessoalmente, pois penso que deveria me esforçar mais.
Onde está o Papa?
Outra experiência que trago no coração foram as hospitalidades do Frei Valério e Frei Gustavo em Assis e da família do Ricardo e Patrizia em Roma. A generosidade, disponibilidade e alegria dessas pessoas mexeram comigo. É algo que eu desejo retribuir a quem quer que passe pela minha casa.


Patrizia, nossa anfitriã em Roma!
Visitamos muitas Igrejas, alguns museus, e passeamos por alguns lugares muito bonitos. A Itália é única no mundo e vale a pena visitá-la. Mas um lugar em especial me cativou: Assis. Essa cidade realmente tem algo de especial, santo. Ficamos com vontade de morar lá.

Assis!!!
Também foi muito bom ver nossos filhos terem essa experiência. A Graziane já contou um pouco. As orações, o interesse pela vida dos santos, enfim, alguma coisa eles guardarão.

Por último, a mensagem que ficou para mim dessa peregrinação é que nossa vida só faz sentido se anunciamos Cristo. Onde quer que seja, da forma que seja. Ele só nos pede para estarmos disponíveis.
Para isso, primeiramente, precisamos querer nos converter. Depois, Deus, da nossa bruteza, consegue extrair coisas boas. E é isso que nós oferecemos a Deus hoje, a nossa família, e certamente Ele fará bom uso dela. Quem sabe de tantos filhos, não sai um sacerdote ou uma clarissa...

Ciao!

Felipe

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