sexta-feira, 22 de junho de 2012

Meu relato pessoal

Eu e Clara admirando pinguins bem de pertinho no Oceanário de Lisboa
Essa foi minha quinta peregrinação. Solteira, fui a duas Jornadas Mundiais da Juventude com o Papa João Paulo II (Paris,1997 e Toronto, 2002) e também na sua visita à Terra Santa no Jubileu do ano 2000. Já casada, fui ao V Encontro Mundial das Famílias de 2006 em Valência.
Tenho certeza de que nessas quatro primeiras viagens Deus me preparava para essa última, a melhor de todas, até agora! São vários os motivos.

Primeiro, porque fui com meu esposo e filhos. Penso não ser necessário falar muito sobre a importância de ir a um encontro com o Papa com os pequenos. Felipe e eu fundamentamos nossa vida em Deus e, portanto, damos o devido valor à nossa comunhão familiar. Viver algo com eles que eu mesma já havia vivido quando jovem é muito mais que legal, é uma forma de passar a fé. E nessa viagem pude ver que Deus tem realmente me ensinado a criá-los e a educá-los nessa fé, pois pude observar seus comportamentos durante momentos difíceis, como nos de cansaço, durante as missas que exigiam silêncio, e nas suas orações nas igrejas. Não poucas vezes, eles foram os sinais de Deus para mim. Vou dar-lhes um exemplo. Num corredor de acesso ao nosso quarto no convento em Veneza, havia uma imagem de Nossa Senhora num canto e uma de Jesus Cristo no outro. Na nossa primeira saída, pedi para pararmos e rezarmos uma Ave-Maria frente à Nossa Senhora para que ela nos acompanhasse e quando retornamos, rezamos um Pai-Nosso frente a Cristo para agradecermos. Aconteceu que havíamos sem querer um hábito, pois as crianças passaram a pedir para rezar frente à Virgem e a Cristo todas as vezes que saíamos ou chegássemos em todos os conventos pelos quais passamos.

Um outro motivo que fez dessa peregrinação única, foi tê-la vivido intensamente antes, durante e mesmo depois da viagem. Como sabem, esse blog foi criado para compartilharmos com vocês nossos esforços para arrecadarmos verbas para podermos viajar. Também espiritualmente, caminhando e assistindo às catequeses preparatórias para o encontro. O que vivemos durante a peregrinação - as missas, as igrejas, o encontro! - foram o ápice! Mas Deus ainda nos permite experimentar esse espírito peregrino mesmo depois do retorno. O bispo D. Luiz havia recebido o grupo de casais de Manaus em sua casa dias antes do embarque e pediu por outro encontro assim que retornássemos.
Esse encontro se deu num almoço muito íntimo na casa de um dos casais peregrinos. Lá, resolveram sortear um casal para dar seu testemunho sobre a peregrinação e fomos nós, Felipe e eu, os sorteados. Nunca poderia eu prever que meu primeiro relato sobre a viagem seria justamente para o ilustre D. Luiz, bispo de Manaus, que está se despedindo, pois está se aposentando. Ele, que já havia feito a mesma coisa com os jovens naquelas peregrinações de que fiz parte. Para mim, foi o fechamento perfeito para essa peregrinação, pois não sabia mais como conter tanta alegria e gratidão a Deus por todo o bem que ele me faz, como rezou um dia a Mãe de Deus.

D. Luiz nos recebeu em sua casa e deu-nos a sua bênção antes de irmos
Para não me estender muito, vou dar só mais um motivo (e longo!) e finalizar esse post.
Nessas peregrinações pode-se sentir o Espírito Santo muito fortemente, mas no início não foi assim comigo. Em mim, o Espírito foi crescendo conforme eu me aventurava.
Na primeira, em 1997, fui equipada com máquina fotográfica para registrar minha ida à Paris e com muito dinheiro para gastar, mas de tão boba cheguei a dormir durante a vigília com o Papa. Dessa experiência, inconscientemente, trouxe para minha vida (e graças a benevolência de Deus) o interesse pelas vidas dos Santos, pois foi durante essa viagem que escutei, li e vi santos pela primeira vez.
Em 2000, pude acompanhar a viagem histórica de João Paulo II a Jerusalém num ano jubilar. Ainda levando dinheiro e uma máquina fotográfica, que quebrou no segundo dia de viagem (graças a Deus), parei e escutei, ainda com certa dificuldade, a homilia do Papa. E lá ele nos dizia: "Meus amigos, Deus também é seu amigo." Foi também nessa viagem, que comecei a conhecer Virgem Maria, Nossa Senhora, pois nas visitas às igrejas da Anunciação e da Natividade, ela foi se revelando a mim. Esses foram os dois grandes tesouros que trouxe da Terra Santa.
Para Toronto, em 2002, havia finalmente percebido que uma peregrinação não é uma viagem turística. E para vivê-la mais intensamente decidi não levar nem máquina fotográfica nem dinheiro. Penso que isso me permitiu escutar mais e guardar mais coisas no coração. As joias que trouxe dessa viagem foram 1) a compreensão de que minha vocação era para o matrimônio, e não para a vida religiosa, 2) e duas breves mensagens de João Paulo II, já muito debilitado, de que a pequena cruz que havia nas nossas mochilas (parte do kit distribuído para os jovens presentes) era para ser carregada todos os dias e, mais tocante ainda para mim, foi escutar que Deus era meu Pai. Até então, apesar de rezar o Pai-Nosso, nunca havia pensado nisso, muito menos chamado Deus de Pai. Isso foi muito impactante para mim, pois preencheu um vazio. Para quem conhece a história da minha família sabe que nós não vemos nosso pai há 20 anos. 
Casada, pude vivenciar minha primeira peregrinação para o Encontro das Famílias em 2006 em Valência. Logo que vi o Papa Bento XVI, senti a mesma coisa que sentia pelo seu antecessor, uma imensa alegria e muita gratidão por estar ali. 
Totalmente diferente das peregrinações de jovens que havia experimentado anteriormente, onde havia muitas eucaristias, rezas de terço, leitura de biografias de santos, e quase nenhum passeio sem cunho religioso, a das famílias foi um choque. Livres para ir onde quiséssemos e fazer o que quiséssemos, confesso que fiquei confusa. Isso é peregrinação?
E numa celebração penitencial que Deus já havia nos providenciado (pois conhece os corações de seus filhos), escutei do padre que escutava minha confissão, "Hoje você já está casada, escutará e viverá coisas diferentes de quando era solteira. Se Deus lhe permite liberdade para passear pela Espanha, aproveite, acompanhada pelo Espírito de Deus." E aos poucos, laudes (orações da manhã) foram sendo organizadas, eucaristias providenciadas. Hoje entendo que o Espírito Santo pode-se fazer presente, porém de uma outra forma.
Hoje, percebo que essas peregrinações anteriores, que tanto me ensinaram algumas coisas, me levaram a entender e aceitar outras, aprofundaram minha fé. Deus sabia que somente com essa bagagem peregrina, eu seria capaz de encarar uma viagem ao exterior, grávida, com 4 filhos pequenos, sem padre ou catequista ou irmãos de comunidade para me orientar ou se responsabilizar pelo tempo de oração e itinerário, tendo que me preocupar com coisas que me encravavam no mundo terreno, como doenças, roupas e alimentação. Nosso Pai foi tão bondoso comigo que no justo momento em que fraquejei (ironicamente durante a caminhada para o encontro com o Papa), Ele me mostrou o papel que deveria exercer na viagem e como eu poderia manter seu Espírito em meio a tantas coisas práticas. Pois afinal, como falou aquele santo padre, não haveria como ser igual às outras - solteira, sem filhos, sem máquina, sem dinheiro... Na verdade, foi melhor!!!
E das tantas coisas que trago dessa peregrinação, uma tem valor especial - meu momento sozinha ante o túmulo de João Paulo II. 
Ao longo dos anos, a cada encontro, a cada encíclica, as palavras desse homem me atingiam. Discorria sobre assuntos que ora me corrigiam, como sobre a dignidade da mulher, ora me confortavam, como sobre o sentido cristão do sofrimento humano. E nada se comparava ao exemplo de vida, de esforço e de fé que ele dava a cada passo sofrido devido à idade e às doenças. Vê-lo sentado praticamente imóvel no encontro de Toronto, me fez entender o quanto aquele encontro com jovens era importante para ele, pois o que mais seria? Dinheiro, status, poder? Às portas da morte, ele certamente não precisava de nada disso. 
Pois em Roma, numa segunda visita à Basílica de São Pedro, pude, sozinha, rezar e agradecer em frente ao seu túmulo por esse amor a mim dedicado. 

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