Por Padre John Flynn, LC
ROMA, domingo, 23 de outubro de 2011 (
ZENIT.org))
– A redução do número de nascimentos e de casamentos terá impacto
significativo na economia e na sustentabilidade das políticas
assistenciais e de segurança social. Esta é a advertência de
The
Sustainable Demographic Dividend: What Do Marriage & Fertility Have
To Do With the Economy? [O dividendo demográfico sustentável. O que o
casamento e a fertilidade têm a ver com a economia?, n.d.t.], documento publicado pelo
Social Trends Institute e financiado por organizações de famílias e universidades.
O
Social Trends Institute é um organismo de pesquisas sem
fins lucrativos, com sede em Barcelona e em Nova Iorque, que estuda
quatro temáticas: família, bioética, cultura & estilos de vida e
governo corporativo.
A prosperidade das economias aumentará ou diminuirá conforme o
tratamento dado às famílias, diz o informe, indicando duas grandes
tendências que preocupam:
Primeira: a população idosa e dependente está sofrendo um aumento
brusco, enquanto a população em idade de trabalho está estancada ou
diminui em muitos países desenvolvidos.
Segunda: o número de crianças em famílias de pais casados está se reduzindo com rapidez.
O termo
demographic dividend, do título do informe, foi
utilizado por alguns economistas para explicar a aceleração do
crescimento econômico nos países asiáticos em que o aumento demográfico
caiu bruscamente. O freio demográfico teria liberado recursos para
estimular o crescimento econômico.
Este dividendo é, em realidade, um empréstimo, que precisa ser
devolvido. O estancamento econômico do Japão nos últimos anos se deve em
parte à baixa fertilidade registrada a partir dos anos 70, segundo o
informe.
A experiência japonesa é uma advertência para a China, que
viu sua taxa de natalidade cair abaixo do limite de substituição nos
anos 90. Muito provavelmente, o gigante chinês terá uma redução do
crescimento econômico nas próximas décadas, devida à redução da sua
força de trabalho.
Qualidade
As economias estarão sob pressão não só por causa da redução dos
trabalhadores, mas também devido à qualidade reduzida. O casamento está
em declive em muitos países. O conjunto de divórcios, convivências e
famílias de um só pai implica um grande número de crianças nascendo fora
de famílias casadas. Isto acontece em muitos países europeus e na
América do Norte, onde 40% ou mais nascem de pais não casados.
O informe destaca a Suécia, onde 55% das crianças nascem de pais não
casados. Apesar da ampla aceitação social da convivência e do apoio
jurídico e econômico que esses casais recebem, suas famílias são muito
menos estáveis do que as casadas. Os filhos de casais não unidos em
matrimônio têm probabilidade 75% maior de que seus pais se separem antes
que eles cheguem aos 15 anos de idade.
As crianças criadas por um só dos pais também têm probabilidades 50%
superiores de desenvolver problemas psicológicos, com drogas,
alcoolismo, tentativas de suicídio ou suicídio consumado.
A pesquisa mostra que os filhos de famílias instáveis têm menos
probabilidades de sucesso nos estudos e no trabalho, e que os homens
casados que permanecem casados trabalham mais e ganham mais.
Segundo o informe, “os países que têm uma cultura matrimonial
relativamente mais forte, como a China, a Índia e a Malásia,
provavelmente terão dividendos de longo prazo”. Mas, infelizmente,
muitos países não se encontram nesta posição afortunada.
Propostas
O informe não é de todo pessimista. Propõe:
- Maior apoio às empresas familiares, agrícolas ou não, que garantam mais estabilidade econômica às famílias.
- Ajudar os jovens a conseguir emprego seguro e duradouro, evitando o
trabalho ocasional ou por contrato. Um trabalho seguro permite começar
uma família e ter filhos.
- Habitação a custos razoáveis. Os elevados preços dos imóveis se associam a taxas de fertilidade baixas em todo o mundo.
- Flexibilidade para as mulheres que preferem combinar as
responsabilidades familiares com o trabalho, para poderem fazê-lo sem
deixar o emprego ou a jornada completa.
- Os governos deveriam apoiar o casamento e educar as pessoas sobre
as suas vantagens, bem como sobre as desvantagens das uniões informais.
- Incentivar a poupança entre os jovens e dar mais apoio financeiro aos casais com filhos.
- Fazer um esforço para “polir” a cultura contemporânea contrária à família e promotora da promiscuidade.
- Os governos deveriam respeitar a contribuição positiva que a religião pode dar à família.
O papa Bento XVI falou recentemente da importância do casamento.
Falando a um grupo de jovens noivos em Ancona, Itália, ele os encorajou a
enfrentar os desafios que a cultura de hoje impõe à fidelidade
matrimonial.
“A estabilidade da sua união no sacramento do matrimônio permitirá
aos seus filhos crescerem confiados na bondade da vida”, afirmou o papa.
“Fidelidade, indissolubilidade e transmissão da vida são os pilares de
toda família, verdadeiro bem comum, patrimônio precioso para toda a
sociedade”.
Um conselho não só religioso, mas também econômico.